"Os dentes mudam o sorriso, o sorriso muda a face. A face muda a expressão, a expressão muda a vida!"

sexta-feira, 3 de junho de 2011

FICHAMENTO 7


O papel dos gestos no desenvolvimento da linguagem oral de crianças com desenvolvimento típico e crianças com síndrome de Down

Os gestos são definidos como ações produzidas para fins de comunicação, geralmente realizados usando-se os dedos, mãos e braços, mas podendo também incluir movimentos faciais e corporais. Tradicionalmente, os gestos são divididos em duas categorias: dêiticos e representativos. Os dêiticos seriam aqueles utilizados para estabelecer um referencial, indicando um objeto ou evento e, portanto, sua interpretação depende do contexto em que é realizado. Já os gestos representativos apresentam conteúdo semântico específico.
Tais gestos podem se referir a objetos, significando alguma de suas características (gestos simbólicos), como por exemplo, o gesto de abrir e fechar a mão em frente à boca (comer), ou ser definidos culturalmente (gestos convencionais), como por exemplo, os gestos de dar tchau e de mandar beijo, em que não há um objeto ou ação específica a ser representada.
Os gestos dêiticos são a primeira manifestação da comunicação intencional e sua sequência de desenvolvimento revela um gradual distanciamento do objeto concreto, seguindo na mesma direção do desenvolvimento simbólico.
O objetivo do presente estudo foi caracterizar o papel dos gestos nos estágios iniciais do desenvolvimento da linguagem oral de crianças com DT e crianças com SD, a partir de um amplo levantamento bibliográfico em bases de dados (SciELO, LILACS, PubMed, Dedalus), que abrangeu as duas últimas décadas de estudos na área.
Muitos estudos têm sugerido que as crianças com SD apresentam preferência pelo meio comunicativo gestual ao meio verbal em função das dificuldades na linguagem oral, especialmente em relação aos aspectos fonológicos e morfossintáticos.
A existência de uma "vantagem", pelas crianças com SD, com respeito ao uso de gestos, é controversa segundo a literatura. Estudo realizado a partir de questionários aplicados aos pais demonstrou repertório gestual mais extenso em crianças com SD, quando comparadas a crianças com DT pareadas em relação ao vocabulário receptivo e expressivo. Resultados semelhantes foram posteriormente encontrados por outro estudo.
Estudos recentes têm sugerido que, além do importante papel dos gestos no desenvolvimento da linguagem oral, permitindo à criança comunicar novos significados de forma isolada ou combinada e, portanto, fornecendo-lhe o potencial necessário para a aprendizagem de novas palavras e suas combinações, os gestos também desempenhariam função social nesse processo, na medida em que sinalizam ao interlocutor que a criança já está pronta para receber determinado tipo de input linguístico.
O interlocutor, por sua vez, ao traduzir as produções gestuais da criança, fornecer-lhe-ia o modelo de como expressar suas ideias inteiramente por meio da fala (por exemplo, em resposta ao gesto da criança de apontar para uma boneca, a mãe provavelmente dirá "a boneca", ou se a criança apontar para a bolsa da mãe e disser "mamãe", a mãe provavelmente dirá "é, a bolsa da mamãe").
Portanto, pode-se dizer que os gestos também desempenham papel indireto na aprendizagem de novas palavras ou sentenças, visto que eliciam produções verbais dos adultos, referentes ao objeto foco da atenção da criança. Além disso, os gestos podem consistir em um meio de a criança direcionar o input linguístico que recebe, facilitando assim, seu próprio aprendizado.
Em relação à criança com SD, a literatura aponta que essas crianças geralmente apresentam dificuldades para prestar atenção a estímulos externos, são menos interativas e menos responsivas e, consequentemente, menos engajadas em atividades de jogo e brincadeira com seus pais.
O estudo dos gestos nos estágios iniciais do desenvolvimento comunicativo pode consistir em um meio importante não apenas para a identificação de crianças com alterações de linguagem, mas também para a distinção entre os casos de atraso e de distúrbio.
Quanto às crianças com SD, estudos mais recentes também indicam o valor de predição dos gestos para o desenvolvimento lexical, embora relacionado apenas à compreensão, e com o importante papel de favorecer o aprendizado de novos significados. Já em relação ao valor preditivo do uso de combinações suplementares de gestos e palavras para o uso de combinações de duas palavras, a literatura relata que as crianças com SD, além do atraso para o início da realização de tais combinações, também as apresentam com menor frequência e diversidade quando comparadas às crianças com DT.
As dificuldades de manter a atenção em atividades compartilhadas e a produção de gestos de forma breve e confusa relatadas em crianças com SD, associadas a comportamentos menos sensíveis e responsivos de seus pais, também podem contribuir para as dificuldades de expressão verbal dessas crianças, visto que interferem no recebimento do input adequado e favorável ao desenvolvimento da linguagem oral.


 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-80342010000300023&lng=pt&nrm=iso






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